- Êita véia! Não vai acordá não?
- Prá quê véio? Hoje é dumingo!
- E o que ocê tá pensano? Que dumingo é dia de féria? Vamo é
levantá, purque Deus ajuda quem cedo madruga. Não é não?
- Tá bão véio, eu levranto. Máis vê se naum me enche mais u
saco tá bao? Hoje eu já tô nervosa cocê e naum quero brigá!
- Óia óia véia! Vô descê no riacho tomá banho. Prepára um
café bem quentinho pra mode eu mais ocê tomá? Já vorto..
- Que café uma óva! Véio caduco. Se bem que tô com uma fóme
da moléstia. Vô prepará o café só pra mim e o véio que venha prepará o café
dele.
Enquanto Belarmino descia até o riacho, Francisca iniciava a
preparação do próprio café.
- Mas óia esse riacho! Tá até a boca de água. Também, com a
chuvarada de onte não me assusta de que teja tão cheio. Eu vô aproveitá que a
água tá suja e pescá uns bagrão haha. Mas espera antes vô raspá a barba e ficá
bunitão pra minha véia. Ela vái tomá um sustão hahaha.
- Máis que diacho! O Belarmino tá demorano por demais. acho
que vô desce no riacho vê o que tá aconteceno.
Francisca larga os preparativos do café, deixando o mesmo no
fogo, calça a bota e vai em direção ao riacho. Enquanto Francisca sai de casa,
Belarmino termina de aparar a sua barba de 30 centímetros de comprimento,
ficando com aparência rejuvenescida.
- Pronto! Agora tá bão.. É só enxugá a cara e vortá pra
casa.
Quando nhô Belarmino levanta abruptamente, perde o
equilíbrio e cai de cara no barro à beira do riacho. Segundos depois chega
Francisca que assustada olha para seu marido.
- Mas que diácho mêmo! Véia?! É você? me ajuda a saí daqui!
- Quem é ocê? o que feiz co Belarmino??
- Sô eu véia! Vem cá me ajudá!
Devido à barba cortada, e sua cara suja de lama, Belarmino
ficou irreconhecível aos olhos de Francisca, que fica apavorada e pega um
pedaço de madeira que estava no chão e vai em direção de seu marido.
- Devorva meu marido! Devorva meu Belarmino!
- Sô eu Chiquinha! Ai ai! Pára de me batê sua véia doida!
Em um movimento desesperado de defesa, Belarmino corre para
o meio do riacho, e Francisca corre atrás. Ambos caem na água.
- Seu, seu, Véééio?? E não é que é ocê memo?
- Sua véia coróca, fez moiá tudo minha rôpa..
- Belaaarmino, ocê ficô bunitão mêmo! Parece aqueles hóme
chiqui que passa nas televisão da venda doseu Juca lá na cidade!
- Nem fiquei não. Mas ocê acha memo?
- Acho sim! Fico memo.
- Véia, ocê não tá de jogá fora não! O que acha da gente
comemorá? Mais antes vamo toma café né..
Belarmino pega Francisca no colo e a leva em direção à casa,
quando chegam perto de casa, vêem fumaça saindo pela janela.
- Véia, nosso paió tá queimano!
- Acho que esqueci o café no fogo..
- Mas nem pra faze café ocê presta né véia?
- E quem disse que o café era pra vóis mecê?
- Ahh intão é desse tipo Véia?
- É sim Véio. Tamém ocê nem parecia artista de tevelizao
memo. Hum!
- Óia que pareço sim!
- Parece não!
- Sim!
- Não!
- Sim!
- Não!
Em um ranchinho, em meio à mata, sob o assovio de sabiás em
bem-te-vis, um casal de velhos caipiras e ranzinzas brigam entre si. Nesta
altura do campeonato já não sabem por que discutem e repentinamente ficam em
silêncio.
Logo se entreolham, se beijam e andam abraçados em direção à
casa fumacenta.
Antes de entrar, ambos param e Belarmino sussurra ao ouvido de Francisca:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.