Há pouca segurança no país,
É preciso proteger-se.
Há muita violência no país,
É preciso proteger-se.
Há no país uma legenda
De que a justiça não funciona.
Então o senhor que é trabalhador,
De madrugada dorme em sono leve,
Com medo de que sua casa
Seja atacada por gente ruim.
Sua botina e uniforme,
E sua marmita sobre a mesa
Indicam que alguém terá um dia cheio.
Trabalhando no subúrbio
Para trazer o pão de cada dia
E um pouco de recursos
À sua família,
Para que ela possa
Viver com dignidade.
Na mão os calos
Provenientes de trabalho árduo
Mas não menos digno.
Casa na periferia,
Pedreiro com
34 anos de idade.
Pai de família,
Vive preocupado
Em cada construção que trabalha.
Pensa em sua casa
Na segurança
E integridade do lar.
E como se a porta dos fundos
Fosse entrada para má gente,
Que pensa em furtar o bem alheio,
Conseguido com suor de muito tempo,
Arma-se o pilar da casa,
E esconde-se isto de todos.
Não deve-se fazer alarde
Nem barulho
Pois barulho nada resolve.
Nosso trabalhador tão preocupado,
Em cochilo sensível e leve,
Logo acorda.
É certo que barulho na madrugada
Assusta qualquer homem preocupado:
Um vazo de flor que cai,
Um cachorrinho que ladra
Ou um gato miserável.
Há sempre som que tira o sono
De nosso trabalhador.
Mas este barulho o deixa em pânico,
(ladrões adentram no bairro)
Só pensa em sua família.
O revólver que escondera na gaveta
É sacado com velocidade.
Justiça? Se faz com as mãos.
Os tiros desferidos
Matam homem inocente.
Pobre homem,
É tarde para saber
De onde era o coitado:
Os tiros foram dados!
Com o susto,
Corre para o meio da rua
E aos prantos berra:
"-Matei o pobre leiteiro!"
Bala que mata bandido
Pode prover injustiça
E sangue nas mãos de um trabalhador.
Atônito, o pedreiro não pensa em nada,
Nem lembra de chamar o médico.
Ao menos o lar está a salvo.
A noite se arrasta,
E a manhã custa aparecer.
Será um dia penoso
Para o nosso pedreiro
Que somente queria segurança.
Dos olhos petrificados
Do pedreiro preocupado
Escorre uma coisa cristalina,
Que é lágrima, suor.. não sei.
Entre os calos dos dedos
E o cano da arma
Ainda engatilhada,
Tremem as mãos do trabalhador.
Fundem-se no peito dois sentimentos
Formando um terceiro
Ao qual chamamos de remorso.
Fabiano Favretto
Tal lembrança é certa
ResponderExcluirE nunca me deixa só.
Mas de adianta lembrar
Algo que hoje é pó? ( Fabiano Favretto )
[...]
Em frente à casa,
No verão boa sombra faz.
E ao movimento da brisa pacata,
Som de tranquilidade traz. (Fabiano Favretto )
tem gente que reconhece e opera melhor dentro de "oficinas irritadas", quebrando sequencias, automatismo mais emergenciais (e suas bandeiras); outros sem desvalidar discursos à direita ou esquerda, não se sentem, particularmente atraídos por polaridades - preferem a política das plantas, da seiva erguendo arvores, dos rios sem interrupção, das modalidades do vento durante entardecer - são poetas de uma oficina pacífica, não por exigirem a tres por quarto a paz, vestir camisas, pintar a cara... não invalidam totalmente os numeros, as sequencias nem sempre são automatismos instalados, porque talvez nem toda instalação seja incomoda... lembro de um professor meu, dizer que preferia poemas curtos ao longos, aos poetas que escrevem pouco aos que escrevem muito - não tinha maturidade e coragem e saco para refutá-lo à época mas compreendo que o ato da escrita, desimportando, do aqui dali saia - agora querem corrigir o olhar do outro lançado pela janela?
um abraço
Olá!
ResponderExcluirPrimeiramente, obrigado pela visita ao meu blog ;)
Gosto de poemas curtos, mas às vezes tento algo diferente.
Se o resultado é bom, já não sei.
Mas eu tento.
"Morte do Leiteiro" é um de meus poemas favoritos de Drummond,
tanto que o utilizei de base para a criação deste. Utilizei da estrutura,
do assunto e da cronologia dos fatos ocorridos.
Não quis me opor ao que já estava escrito, pois ao meu ver é impossivel e também um pecado
mudar o que é perfeito.
Minha intenção era criar um universo paralelo, um ponto diferente da história.
Creio que me precipitei ao escrever "Em resposta à poesia de Carlos Drummond...".
Isto estaria mais para "Um universo paralelo ao de Drummond", ou, "Uma visão diferente da poesia de Drummond". Não sei.
Apenas escrevi, sem este ar de crítica ou desmerecimento.
Palavras mudam o mundo.
Abraços,
Fabiano Favretto