O caipira, coitado, derramava as lágrimas quentes sobre a madeira gelada que estava a serrar.
É madrugada de domingo, e o Sol preguiçoso, custa a nascer. Ele não quer que nasça.
Com tábuas e pregos, vai tecendo a estrutura. Martela, bate e queixa-se do frio.
Ele pega uma pá e começa a fazer uma cova. O trabalho o deixa satisfeito, mas lembra-se que o dia é triste.
Às 6 e meia da manhã os raios solares iluminam a estrutura em formato de caixão.
O dia amanhece, e antes que sua esposa acorde, ele volta à sua casa e deita-se à cama. Poucos minutos depois, Nhá Gertrudes acorda.
- Ô véio, ocê não cumprou a cama pra minha mãe inda? Ara, ela chêga hoje ômi.
- Num precisa não véia! Eu mêmo que fiz a cama. Tâmo meio sem dinhêro.. a prantação de cebola esse ano num deu boa não. Mais, como adoro minha sogrinha resorvi fazê uma surpresinha. Tenho certêza que ela vai caí dura de felicidade.
- Crédo veio! Num diz isso não!
- Ué! Pode acontecê.. Ela pode gostá taanto da cama, que se batê as bota, vai querê sê sepurtada juntinha com a cama. Pois é. E como sô um cara previnido, fiz até um quarto pra ela!
- Como assim, véio? Exprica direito isso!
- Num é iguar aqueeeles quartão que tem na casa do barão lá.. Mais até que tem uns sete parmo de artura!
- Sete parmo? Ocê feiz uma cova pra minha mãezinha? Foi? Seu bocó de mola!
- Eita lasquêra! Muié que só recrama mêmo! Se quisé dêxo uns quatro pármo só...
Fabiano Favretto
elomar - cantiga do estradar [excerto]
ResponderExcluirTá fechando sete tempo
qui mia vida é camiá
pulas istradas do mundo
dia e noite sem pará
Já visitei os sete rêno
adonde eu tia qui cantá
sete didal de veneno
traguei sem pestanejá
mais duras penas só eu veno
ôtro cristão prá suportá
sô irirmão do sufrimento
de pauta vea c'a dô
ajuntei no isquicimento
o qui o baldono guardô
meus meste a istrada e o vento
quem na vida me insinô
vô me alembrano na viage
das pinura qui passei
daquelas duras passage
nos lugari adonde andei
Só de pensá me dá friage
nos sucesso qui assentei
na mia lembrança
ligião de condenados
nos grilhão acorrentados
nas treva da inguinorança
sem a luiz do Grande Rei
tudo isso eu vi nas mia andança
nos tempo qui eu bascuiava
o trecho alei
tô de volta já faiz tempo
qui dexei o meu lugá
isso se deu cuano moço
qui eu saí a percurá
nas inlusão que hai no mundo
nas bramura qui hai pru lá
saltei pur prefundos pôço
qui o Tioso tem pru lá
Jesus livrô derna d'eu môço
do raivoso me paiá
já passei pur tantas prova
inda tem prova a infrentá
vô cantando mias trova
qui ajuntei no camiá
lá no céu vejo a lua nova
cumpaia do istradá
ele insinô qui nois vivesse
a vida aqui só pru passá
nois intonce invitasse
o mau disejo e o coração
nois prufiasse pra sê branco
inda mais puro
um abraço
Acho muito legal
Excluiresse jeito caipira de se expressar.
Ouso dizer, que sou caipira de coração.
Abraços.