I
Seguia a minha estrada,
Era noite e a Lua subia.
A tarde que era finada,
Dela nenhum resquício havia;
Começava o sereno a cair
E a dor, meu peito consumia.
A Lua continuava a subir
E a cor nunca foi tão amarela;
Lembrava que decidira fugir
Mas o coração não foge dela
A fim de se acabar aos poucos
Como assim acaba fina vela.
Eram dias deveras tão loucos!
Mas breves assim permaneciam
Como permanece meu peito: rouco.
II
As dores ainda me consumiam
E as penas eram as mesmas, então;
Eram as solidões que cresciam
E ocupavam todo meu coração.
Dei trégua à minha caminhada
Que fiz feroz até então:
Em silêncio na beira da estrada,
Respirei fundo e acendi um cigarro.
Não vi movimento, não havia nada
Além de na garganta o pigarro.
A Lua mais alta agora
Iluminou o chão de modo bizarro:
Sabe-se era noite, e a essa hora
Não deveria a rua estar iluminada
Pensei comigo: vou-me embora!
III
Retomei o ritmo da caminhada,
Temendo olhar por onde andei,
Com medo do que havia na estrada.
No entanto a Lua - me espantei
Parecia agora tão imóvel!
Como ela, assim paralisei:
Vinha vindo um automóvel,
Alta velocidade em minha direção,
O carro pilotado, ignóbil
Atingiu-me de raspão.
Um momento rápido anterior
Foi a minha salvação:
Um reflexo, movido pelo horror
Fez meu corpo um pouco se mover;
Mesmo assim fui atingido de dor.
IV
Pensei que iria morrer,
E o automóvel foi embora.
Meu sangue começou a escorrer,
Não sabia o que fazer naquela hora.
Comecei a me mover lentamente
Arrastando meu corpo de hora em hora
Para fora da estrada, que latente
Serpenteava em direção à cidade,
Mas estava eu tão distante
E sabia agora de minha dificuldade
De permanecer ao menos lúcido,
Sobrevivendo à própria calamidade.
Estava quase todo plácido,
Exceto pelo estado do peito meu:
Eu era tudo, menos lúcido.
V
A Lua ainda parada no céu
Sarreava do estado em que me achava:
Oferecia simples, o brilho seu.
Era a imagem do que faltava
Que a dor fez aumentar.
A noite fria assim avançava,
E uma luz no chão se fez cintilar:
Era um batom vermelho
Lembrei-me de você o usar
Naquela noite, em frente ao espelho
Enquanto olhava-me e sorria.
Sua boca como meu sangue vermelho
E seus olhos beijar, eu deveria;
És por mim (em segredo) amada
Mas morro (sozinho) assim, todavia.
Fabiano Favretto
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