Ao acordar, todos os sentidos
Faziam-se plenos.
Tomou café amargo:
Perdeu o paladar.
Pegou ônibus lotado
Indo ao trabalho,
E assim perdeu o horário.
No trabalho,
A labuta intensa
Fez ele perder a força.
Perdeu o ânimo
Quando recebeu críticas ruins
Pelos seus colegas,
Sem merecê-las!
Perdeu a visão por olhar
Somente para uma tela de computador.
Perdeu a audição quando
O maquinário fez-se a única
Música disponível e necessária.
Perdeu o tato
Por suas mão tocarem objetos intangíveis.
Perdeu o olfato
Pois o cheiro de tinta e resina
Eram o único aroma presente.
Perdeu o ímpeto de resposta
À qualquer estímulo externo.
Chegou em casa, com seus pés cansados
E mãos trêmulas de abstinência de realidade.
Perdera também a fome.
Ligou a TV, e em meio às notícias despejadas,
Perdeu o último lampejo que tinha de esperança.
Perdeu a sanidade, e por fim,
Perdeu em um dia, mais uma vez
A própria vida.
Fabiano Favretto
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