Recorro agora ao medo,
Sentimento tão contemporâneo.
Ele que cresce nas hachuras
Desenhadas em remendos
Do nosso tempo instantâneo,
Repletos de ranhuras.
O medo que não é só amarelo,
Mas também invisível e covarde
A ponto de pronunciar-se
Ao decorrer do menor pesadelo.
O medo chega sem alarde
Nos fazendo suplicar por catarse.
Ora, tão primitivo e essencial
É esta parte de nosso intelecto:
O medo do que não conhecemos
Tem sido na evolução, crucial,
Em seus diversos aspectos.
O que acontece quando morremos?
Mas talvez o medo
Seja diferente da covardia.
Por detrás do medo há uma defesa,
Enquanto da covardia o enredo
É uma fajuta alegoria
Para o caçador que se torna presa.
O medo é nobre em sua essência,
Pois não é antônimo da coragem.
Há corajosos que por natureza
Não trazem em si sapiência,
Os atos carecem de pairagem.
Traz o medo, em si, a delicadeza.
O medo arrebatador
Nos paralisa e nos move.
O medo do que virá é certo,
E nem por isso é desmotivador.
O medo ao certo nos comove,
Há muito medo sob esse céu aberto.
Este velho amigo
Que é digno de tantos receios
Terei um dia melhor compreendido.
Seja na bonança ou no perigo,
Seja em quais forem os meios
O medo estará sempre comigo.
Fabiano Favretto
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